por Dra Michele Rodrigues, neuropsicopedagoga
A promoção da autonomia funcional na infância é um dos pilares do desenvolvimento humano e, no contexto do Transtorno do Espectro Autista (TEA), assume uma dimensão ainda mais significativa. A construção de habilidades que permitam que a criança atue com mais independência em sua rotina — como vestir-se, alimentar-se ou organizar seus objetos — não se restringe à aquisição de competências práticas. Trata-se, sobretudo, da construção de caminhos para a participação, o pertencimento e o exercício de escolhas.
Crianças com TEA frequentemente necessitam de um ambiente estruturado e previsível para aprenderem novas habilidades. Isso inclui a inserção intencional de oportunidades para que participem de pequenas tarefas no cotidiano familiar. Atividades como guardar brinquedos após o uso, escolher a roupa, ajudar a montar o prato de comida ou escovar os dentes são exemplos de experiências que promovem tanto o desenvolvimento funcional quanto a autorregulação emocional.
É essencial que essas experiências sejam organizadas de forma acessível à criança. O uso de estratégias como rotinas visuais, modelagem, reforços positivos e divisão da tarefa em etapas pode facilitar o engajamento e a aprendizagem. Na bloomy, desenvolvemos materiais de apoio que orientam as famílias a transformar momentos comuns em oportunidades de construção de autonomia, respeitando o ritmo e as necessidades individuais de cada criança.
O ambiente escolar também exerce papel central na promoção da autonomia de estudantes com TEA. Para além do conteúdo curricular, a escola deve oferecer condições para que os alunos desenvolvam habilidades adaptativas, tais como organizar os materiais escolares, comunicar necessidades, participar da rotina de sala e realizar atividades de autocuidado.
Professores podem empregar recursos como instruções visuais, organização do ambiente, apoio físico inicial e reforço gradual da independência. A oferta de oportunidades para tomada de decisão e tentativa e erro são fundamentais para o fortalecimento da autoestima e para a redução da dependência excessiva de adultos.
De acordo com o modelo de apoio proposto pela bloomy, a escola deve ser entendida como um espaço não apenas de aprendizagem acadêmica, mas de desenvolvimento funcional e relacional. O trabalho colaborativo entre educadores, terapeutas e família é o que garante consistência e continuidade às conquistas obtidas.
Autonomia como processo, não como ponto de chegada
A construção da autonomia funcional não ocorre de forma linear nem imediata. Trata-se de um processo contínuo que exige constância, paciência e suporte individualizado. Cada avanço, por menor que pareça, representa um marco no desenvolvimento e deve ser reconhecido como tal. Como indicam pesquisas em intervenção precoce e práticas baseadas em evidências, o envolvimento da criança em tarefas cotidianas fortalece não apenas habilidades motoras e cognitivas, mas também a sua capacidade de participação social.
A bloomy reforça que dar à criança a chance de tentar — mesmo que a execução não seja perfeita — é o que constrói o caminho para uma vida com mais escolhas e possibilidades.