Por dra Michele Rodrigues, neuropsicopedagoga
Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) frequentemente apresentam um estilo de processamento da linguagem mais literal. Isso significa que tendem a compreender o que é dito de forma direta, concreta e objetiva, com menor tolerância à ambiguidade.
Expressões idiomáticas, metáforas, ironias e piadas podem gerar confusão ou desconforto — não por falta de inteligência ou senso de humor, mas por diferenças na forma como atribuem significado às palavras. Assim, frases como “ficar de olho”, “engolir sapo” ou “cair no mundo” podem ser interpretadas ao pé da letra, causando reações inesperadas.
Esse padrão está associado a aspectos cognitivos característicos do TEA, como:
- Dificuldade na teoria da mente (capacidade de compreender estados mentais de outras pessoas)
- Menor uso de inferências pragmáticas
- Tendência à rigidez de pensamento
Esses fatores ajudam a explicar por que a linguagem e TEA estão tão interligadas no desenvolvimento infantil.
Para entender outro aspecto ligado à comunicação, veja o artigo sobre ecolalia no autismo, que explica a repetição de palavras e frases como uma forma legítima de expressão.
Humor, ironia e duplos sentidos: por que são desafiadores?
O humor e o contexto social
O humor exige a leitura de contexto, a identificação de incongruências e a flexibilidade cognitiva. Muitas piadas dependem de significados implícitos e referências sociais, o que pode ser desafiador para crianças com TEA.
Ironia e ambiguidades
Na ironia, existe a diferença entre o que é dito e o que realmente se quer comunicar. Essa abstração demanda maturidade cognitiva e experiências sociais que nem sempre são acessíveis às crianças com TEA.
O artigo sobre rigidez cognitiva no autismo mostra como a dificuldade de lidar com ambiguidades pode impactar diretamente a compreensão da linguagem figurada.
Estratégias para apoiar a compreensão da linguagem no TEA
Na prática clínica e educacional, algumas estratégias fazem diferença ao trabalhar linguagem e TEA:
- Utilizar linguagem direta e objetiva sempre que possível
- Evitar expressões idiomáticas sem explicação prévia
- Usar recursos visuais como desenhos, imagens ou vídeos para reforçar o sentido
- Contextualizar metáforas e expressões no dia a dia, explicando usos e significados
- Incentivar a criança a reformular com suas próprias palavras para garantir compreensão
- Introduzir gradualmente figuras de linguagem, a partir de exemplos concretos e cotidianos
Essas práticas não buscam privar a criança do contato com a linguagem simbólica, mas sim mediar esse contato de forma intencional e acessível.
Para professores, o artigo sobre planejamento pedagógico para crianças com TEA oferece estratégias inclusivas que também contribuem para melhorar a comunicação em sala de aula.
Linguagem e TEA no contexto educacional
A escola é um espaço privilegiado para estimular a comunicação. Professores podem adaptar sua linguagem, usar exemplos práticos e reforçar instruções com imagens ou objetos. Além disso, atividades que envolvem dramatizações, histórias sociais e jogos simbólicos são ferramentas valiosas para expandir a compreensão da linguagem figurada.
Trabalhar de forma colaborativa com a família e profissionais de saúde é essencial para garantir que a criança tenha acesso a diferentes formas de aprender e se comunicar.
Como a bloomy apoia a comunicação no TEA
Na bloomy, sabemos que a linguagem é uma ferramenta de conexão. Nossas equipes multiprofissionais — formadas por psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicopedagogos — trabalham juntas para:
- Mapear o perfil comunicativo de cada criança
- Orientar famílias no uso de estratégias claras e funcionais
- Apoiar professores na construção de ambientes comunicativos inclusivos
- Utilizar recursos visuais, histórias sociais e exemplos cotidianos
- Estimular a autonomia comunicativa, favorecendo a participação social
Para nós, falar de forma clara não significa simplificar. Significa garantir pertencimento e permitir que cada criança com TEA compreenda melhor o mundo ao seu redor.